A reflexão e a discussão realizadas sobre a prática pedagógica nos remetem a um campo com múltiplas dimensões, como o professor, aluno, metodologia, avaliação, relação professor/alunos, concepção de educação e de escola. Segundo vários autores, há muitas maneiras de se estudar a prática docente quando se pretender aprimorar as ações e o corpo de professores de uma instituição de ensino superior.
Nesse contexto, escolheu-se analisar tal prática na dimensão da avaliação institucional, sob o olhar do ator sujeito do processo de aprendizagem, o aluno. Primeiramente, destaca-se a importância da avaliação; que se considere autoavaliação institucional na universidade como um campo do conhecimento permeado por grandes questionamentos. Distante de ser neutra, sempre revela posicionamentos e tendências, consubstanciando com sua natureza política. Trata-se também de uma questão de poder político que se estabelece entre avaliador e avaliado, a universidade e o professor, a escola e o aluno.
Embora esse texto refira-se especificamente à avaliação escolar discente, considera-se que suas observações possam ser aplicadas também ao estudo da avaliação dos professores. A avaliação "é, por natureza, meio e não fim", devendo apresentar um sentido de diagnóstico que favoreça o aperfeiçoamento do que está sendo avaliado, pressupondo que seja através de um processo sistemático, global, contínuo e com a necessária legitimidade técnica e política. Diante de uma gama enorme de dados e experiências conseguidas ao longo do tempo numa típica instituição de ensino superior - sobre a avaliação da prática docente no olhar dos alunos - objetiva-se nesse texto compartilhar algumas dessas experiências, extrapolando-as para algumas reflexões e inquietações, tentando sem maiores pretensões apontar algumas conclusões relacionadas ao contexto.
Ressalva-se que, inicialmente, houve muitas restrições por parte dos professores quanto à "avaliação" que os alunos fariam. Os argumentos foram dos mais variados. Desde a competência dos alunos em realizar tal avaliação à capacidade desses em estabelecer um juízo de valor. Mas com o tempo e diante das sucessivas avaliações realizadas o processo foi incorporado na cultura organizacional - transcorrendo naturalmente dentro do contexto institucional.
Esse processo de autoavaliação institucional contou, em nove anos, com 18 pesquisas, totalizando aproximadamente 12 mil questionários respondidos pelos alunos. Os dados foram levantados na Faculdade Sudoeste Paulista, localizada no interior do Estado de São Paulo. A instituição foi credenciada pelo Ministério da Educação em 2000 e, atualmente, possui em torno de 1.800 alunos de graduação, que semestralmente opinavam sobre a prática pedagógica de seus professores.
Para o levantamento das informações foi aplicado um questionário estruturado respondido pelos alunos e que compreendia várias dimensões da instituição, porém, como o alvo da discussão desse texto é a avaliação da prática docente, serão analisados apenas os dados dessa dimensão avaliativa. A aplicação dos questionários sempre foi realizada na metade do 2º bimestre - levando em consideração que o regime é semestral e sem a presença do professor em sala. Os alunos não se identificavam nas folhas do questionário.
A avaliação da prática pedagógica dos professores pelos alunos, apesar de ser monofocal e de apresentar várias limitações, mostrou-se ao longo dos anos um método muito eficaz para a melhoria da qualidade de ensino e da satisfação discente. Houve uma progressiva melhora na atividade docente, com reflexos evidentes na própria instituição.
Muitas vezes, um professor que provocava grande insatisfação numa sala de aula, ecoava intensamente na insatisfação dos alunos com outros docentes e, principalmente, com relação ao coordenador de curso e à própria instituição. A insatisfação tornava-se, em algumas situações, generalizada - motivada por um fator desencadeador: o professor. Inclusive em algumas turmas, observou-se o aumento da evasão dos alunos.
Sem dúvida, o corpo docente tem papel mais importante dentro de uma instituição de ensino superior - e o grau de satisfação dos alunos com os seus professores reflete diretamente na sua motivação e no ambiente favorável ao aprendizado. Fato que contribui positivamente para a gestão da própria instituição, sendo o seu monitoramento um importante indicador estratégico.
Os apectos positivos ficaram evidentes na aplicação sucessiva e periódica da avaliação, favorecendo a eficácia do processo. A imagem da instituição também foi influênciada de maneira muito positiva. Pesquisas internas mostraram que alunos satisfeitos e, em especial, com o corpo docente, divulgavam a faculdade - 50% dos ingressantes foram estudar na instituição por influência desses alunos.
Mauro Afonso Rizzo Pesquisador em Avaliação e Gestão Educacional
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